Após mais de 2 anos, especialistas indicam uma retomada dos IPOs em 2024. A estimativa de maior interesse pela bolsa de valores deve atrair oportunidades de captação e lucratividade.
Os IPOs costumam despertar muito interesse em empresas e investidores. Essas movimentações no mercado de ações, de forma geral, são as mais acompanhadas por especialistas e participantes do setor.
Antes que possamos fazer uma abordagem mais completa sobre a volta dos IPOs, é importante nos aprofundarmos sobre o que eles são e o que representam. Confira!
O que são IPOs
IPO é a entrada de uma empresa na bolsa de valores. A sigla em inglês se refere a “Initial Public Offering”.
A oferta pública inicial é a abertura de capital de uma companhia; ou seja, esse é o momento em que ela faz sua primeira oferta de ações no mercado.
As empresas lançam suas ações no mercado de valores mobiliários para captar recursos ou vender participação de sócios. No Brasil, essas operações podem chegar a centenas de milhões de reais.
Tipos de IPOs
Em síntese, podemos afirmar que o tipo de IPO está relacionado ao destino do valor negociado com as ações.
- Oferta primária: com o IPO primário, a empresa emite ações para circular no mercado. Quando falamos em emitir ações, estamos falando de novas ações, que nunca pertenceram a nenhum outro sócio. Os recursos captados com essa oferta retornam para o caixa e podem ser utilizados para investir em sua expansão.
- Oferta secundária: no IPO secundário, quem vende as ações são os sócios da companhia. A oferta é de ações já existentes, que têm o propósito de captar recursos para ressarcir acionistas que desejam se retirar da empresa.
3 principais motivos para as empresas fazerem IPOs
Na maioria das vezes, as companhias que realizam um IPO estão em um estágio de maturidade avançado dos seus negócios.
A escolha pela entrada no mercado acionário geralmente passa por muitas análises e planejamentos internos. O processo é complexo, com muitas etapas, e exige dedicação em diversos níveis.
Entre as vantagens que levam empresas a tomarem por IPOs, temos três principais:
Acesso a capital
Antes de mais nada, a lucratividade é um dos motivos centrais que incentivam a realização de IPOs.
Em contraste com financiamentos bancários ou outras formas de operações de crédito, a oferta de ações não exige das empresas um comprometimento mais firme com datas e retorno específicos.
Ações não têm vencimento, não exigem disponibilidade de valor em um momento pré-definido e sua emissão pode ter um custo menor do que outros tipos tradicionais de obtenção de capital.
Liquidez
A entrada no mercado acionário também pode ter uma forma de oferecer liquidez aos empreendedores e/ou sócios.
A abertura de capital possibilita que eles vendam suas ações para outros investidores. Eles podem, por exemplo, querer obter recursos para participar também de outros empreendimentos.
Os sócios também podem entender que, em virtude de seu potencial, as ações da empresa são de alto valor e, ao serem negociadas, vão trazer lucro direto para seu caixa próprio.
Visibilidade
A imagem de uma companhia se transforma com a realização do IPO. Como já mencionamos, esse é um processo de várias etapas que exige a adequação a um número de regras.
Há um ganho relevante de reconhecimento público. A marca e seus produtos e/ou serviços passam a ter uma visibilidade maior não só na mídia especializada, mas também em canais relevantes para seu público.
A projeção no mercado também se eleva a um outro patamar entre concorrentes e no meio de investidores, já que a companhia começa a ser acompanhada com mais atenção.
Da mesma forma, há um reforço importante da sua credibilidade. Isso acontece em virtude da abertura de capital representar também um grau mais significante de transparência, responsabilidade e governança corporativa.
Como funciona a estreia de uma empresa na bolsa de valores?
Antes de começar os procedimentos de IPO, as companhias que desejam abrir seu capital precisam cumprir uma série de exigências legais e institucionais.
*A “Lei das S/A” (Lei nº 6.404/76) define e regulamenta as sociedades por ações.
Os requisitos a seguir são os principais para que uma empresa possa fazer sua primeira oferta de ações na Bolsa de Valores brasileira (B3):
- Ser uma sociedade constituída sob a forma de S.A.
- Ter três anos de demonstrações financeiras auditadas por auditor independente registrado na CVM (ou auditado desde o início para caso de empresas com menos de 3 anos)
- Designar um diretor de Relacionamento com Investidores estatutário
- Possuir Conselho de Administração
- Identificar eventual segmento de listagem e fazer o pedido de listagem e de admissão à negociação na B3
- Realizar oferta pública de distribuição de valores mobiliários registrada ou dispensada de registro pela CVM
- Obedecer também aos requerimentos específicos dos segmentos de listagem escolhidos
Um IPO pode demorar entre oito meses e três anos até acontecer. Auditorias, apresentações e registros estão entre os muitos passos para sua realização:
- Planejamento e auditoria
- Roadshow (apresentação da empresa e da oferta para o mercado)
- Registro junto a Comissão de Valores Mobiliários e listagem na B3
- Prospecto (documentação oficial sobre a companhia e a oferta)
- Período de reserva e bookbuilding*
- Estreia na Bolsa
*Bookbuilding: etapa para consideração da quantidade de ações que investidores institucionais indicaram querer comprar e a que valor, para que a empresa estabeleça o preço de lançamento das ações.
Por que o Brasil atravessou um período de desempenho de IPOs abaixo do esperado?
Nos últimos anos, tanto no cenário nacional quanto no internacional, as empresas que realizaram IPOs não atingiram o valor que esperavam ao estrear na bolsa.
De acordo com análise feita em 2022, dos 73 IPOs realizados em 2020 e 2021 no Brasil, 57 estavam com preço abaixo do valor definido na oferta inicial.
Ou seja, 78% das empresas que abriram capital na bolsa de valores no Brasil estavam no negativo em 2022. Para entender o porquê desse cenário, precisamos voltar para os anos anteriores, em que tivemos um aumento considerável de companhias fazendo IPOs.
Em 2021 e 2021, a taxa Selic caiu para 2% ao ano, derrubando também o desempenho de boa parte dos títulos de renda fixa. Como resultado, investidores buscaram em massa a bolsa de valores; até os de perfil mais conservador acompanharam essa corrida.
Para as empresas, esta busca por investimentos representava importantes oportunidades de expandir seu crescimento com IPOs. A expectativa de recuperação econômica pós-pandemia também foi um fator relevante para essa movimentação.
Além de companhias que já estavam interessadas em entrar na bolsa, negócios que ainda se encontravam em estágios iniciais, sem margem de lucro ou estabilidade, também fizeram seu IPO.
No ano seguinte, em 2022, diversas variáveis contribuíram para um cenário econômico desfavorável para o mercado acionário:
- Inflação global com elevação de juros em diversos países
- Taxa Selic alcançando 13% ao ano
- Crescimento do PIB brasileiro em nível insuficiente para atrair investidores
- Baixa qualidade das ofertas na bolsa (principalmente pela entrada no ano anterior de empresas que não eram lucrativas)
Os investidores que haviam buscado a renda variável com investimentos em ações na B3 passaram a retornar para a renda fixa, que, pela alta dos juros, tinha mais potencial de altos retornos com pouco risco.
Por consequência dessa mudança de contexto, o Brasil entrou em um período de “seca de IPOs”.
No último trimestre de 2023, o banco Morgan Stanley publicou um estudo com base na análise de mais de vinte anos do mercado acionário brasileiro. O relatório aponta para uma tendência de positividade para IPOs nos próximos 15 meses. Novos diagnósticos de especialistas também observam um potencial semelhante.
A seguir, falaremos sobre o cenário dos IPOs em 2024.
A expectativa para 2024 é uma retomada dos IPOs
Depois de 2022 e 2023 sem nenhum registro de IPO na B3, estamos entrando em um momento mais propício para a entrada de novas empresas no mercado de ações.
Especialistas e empresas estão com uma visão otimista diante de mudanças econômicas acontecendo no Brasil e no mundo com impacto direto no potencial de sucesso da abertura de capital.
O início de 2024 trouxe uma redução considerável nos juros no Brasil e nos Estados Unidos.
Em 2022 e no primeiro semestre de 2023, a taxa Selic se manteve em 13,75%. Desde agosto do último ano, o Banco Central começou a colocar em prática cortes periódicos da taxa de juros. Em janeiro de 2024, a Selic caiu de 11,75% ao ano para 11,25% ao ano.
Atualmente, a expectativa é de que essa taxa continue diminuindo e chegue em 9% a.a em dezembro de 2024 e 8,5% a.a ao final de 2025. Assim como aconteceu em 2020/2021, quando os juros estiveram em um valor mais baixo, a expectativa de retorno em investimentos em renda fixa também é menor.
A partir dessa análise, economistas acreditam que a migração de investidores para a renda variável voltará a acontecer.
Outro aspecto que torna a bolsa de valores mais atrativa atualmente é o controle da inflação. A estabilidade do dólar junto com a regressão de juros nos EUA contribuem tanto para esse controle quanto para o maior interesse dos investidores brasileiros em ações.
A combinação dessas variáveis indica aos especialistas do mercado acionário que há um cenário muito favorável para os IPOs. A previsão é de oportunidades interessantes para empresas querendo fazer sua primeira oferta de ações e para investidores procurando novas opções.
De acordo com especialistas, empresas de saneamento e energia devem chegar à bolsa com maior impacto
Muitas companhias, de diversos setores, já vinham demonstrando interesse em realizar IPOs. É provável que elas estiveram esperando um momento mais aquecido da bolsa e, em 2024, devem concluir o processo para ofertar suas ações.
As estimativas quanto ao número de empresas que de fato entrarão na bolsa podem variar entre especialistas. No entanto, é um consenso geral que são as empresas mais consolidadas e com maior necessidade de acesso a capital que farão essa movimentação.
Como investidores podem aproveitar a volta dos IPOs em 2024?
Do lado de quem busca investimentos, é importante ter cautela. Apesar da redução da taxa de juros e da previsão de controle da inflação, os números ainda podem ser considerados elevados.
A indicação dos economistas é buscar empresas com operações sólidas, que já apresentam lucros comprovados e tenham potencial relevante de crescimento em seus respectivos setores. Elas também são as que apresentam menor risco.
Como mencionamos anteriormente, organizações da área de energia e saneamento básico estão entre as consideradas mais promissoras por diversos conhecedores do mercado de ações. Além dos que já mencionamos, outros segmentos apontados são:
- Distribuição de água
- Infraestrutura
- Indústria farmacêutica
- Construção civil
- Fintechs
Seja como for, os investidores devem observar o contexto atual e acompanhar as estimativas e previsões. Outro ponto importante é analisar as empresas e as ofertas em que se pretende investir.